Modernizar Organizações

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Por Ligia Zotini Mazurkiewicz

Para Modernizar Organizações, Precisamos Muito Mais do que Paredes Coloridas e Comida Grátis

“Quando organizações nascidas no século XXI começaram suas operações, causaram um enorme choque cultural ao apresentaram seus escritórios para o mundo. Lugares com design super modernos, jogos de entretenimento e comidas das mais variadas, totalmente de graça, esses lugares não pareciam com nada do que conhecíamos como ambientes de trabalho e tirando em eventos ou festas também nunca havíamos visto nenhum escritório proporcionar paredes tão coloridas ou comida tão à vontade.”

Claro que se tornaram o lugar dos sonhos para se trabalhar de muita gente, e com o passar dos anos as operações dessas organizações se instalaram no país, e foram populadas por pessoas que eventualmente conhecemos. Sim eventualmente, porque uma das características delas é possuir uma força trabalho tão enxuta, que ficariam chocados ao saber que muitas alcançaram seus primeiros bilhões, empregando não mais do que poucas dezenas de profissionais, e esses me colegas contaram algumas de suas visões e verdades sobre isso tudo:

– Áreas de Diversão:

Mesas de jogos, videogames, escorregadores, salas de descompressão com puffs e bolas, tudo isso parece incrível sim, no começo impressiona e dá um orgulho enorme de pertencer, mas no dia a dia, utilizam essas coisas com a mesma frequência que usaríamos se tivessem em nossas casas, ou seja quase nunca (claro que se você for viciado em alguns dos jogos, não conta), a vida real ainda acontece nas mesas, salas de reuniões ou nos clientes.

– Comida Grátis:

É difícil imaginar um lado negativo de “free food”, mas acreditem existe! Escutei coisas como, impossível fazer dieta e manter o peso nesse lugar (meio óbvio né?), mas o que mais me chamou a atenção foi a reclamação de que por terem comida sendo fornecida gratuitamente, sair para comer fora, não é “possível” com tanta frequência, alguns adoram quando os clientes visitam o prédio para poder variar o cardápio e o ambiente.

– Ausência de Mobilidade:

Essas organizações por serem criadas com operações super enxutas e ágeis, elas entendem que o modelo ideal é ter todos os funcionários sempre fisicamente próximos, banindo assim o home office de suas práticas.

– Financiar Custos Básicos:

Muitas dessas organizações, pagam como benefícios extras, manicure, lavagem de roupas, yôga e até congelamento de óvulos (custo nem tão básico assim), em um primeiro momento todos os funcionários adoram isso, em um segundo momento começam a se perguntar, o quanto de tempo estão realmente dedicando para suas vidas fora daquela vida, e isso gera boa parte dos problemas existenciais que vi alguns colegas me contarem.

Com alguns dos encantamentos originais desmistificados, comecei a verificar o que de fato faz uma organização ser percebida como moderna e as conclusão passam muito mais por contrastes entre valores novos x ultrapassados, do que por ambientes coloridos x monocromáticos:

– Confiança x Controle:

As organizações mais modernas já entenderam (de verdade) que as pessoas fazem a diferença, e que os melhores profissionais não aceitam mais o controle hierárquico onde a confiança só pode ser gerada se os processos e números justificarem isso, a confiança para essa nova força de trabalho passa sim por entregar números e processos, mas também passa por afinidades, por se identificarem com o outro, e principalmente por se sentirem inspirados pelo grupo ao redor, e se isso tudo acontece, muito pouco de controle se mostra necessário, criando assim espaço para algo muito mais construtivo florescer: a colaboração!

– Manager x Maker:

A figura do gerente responsável somente por controle, consolidações e por fazer fluir a comunicação dos mais altos escalões, perde a razão de existir, algum nível de consolidação continua se fazendo necessário, mas será feito naturalmente pelo líder do projeto e não por uma figura “empossada de autoridade”, isso que dizer que ser “maker”(construtor, realizador) é requisito básico para liderar grupos de trabalho nessas organizações modernas.

– Força De Trabalho x Força de Apaixonados Pelo Que Fazem:

A velha máxima de que eu não preciso gostar do chefe, dos colegas ou do trabalho, preciso é fazer o que está na descrição do meu cargo, para ganhar o salário a cada mês, já não é mais realidade para profissionais do século XXI, o que se encontra em organizações modernas é uma maioria de apaixonados pelo que fazem, logo o termo força de trabalho não mais traduz com fidelidade essas pessoas.

– Proximidade Física x Proximidade de Prioridades:

Ou seja o local de trabalho x local onde seu trabalho e sua atenção estão! As organizações mais modernas, não contratam profissionais do pescoço para baixo somente, elas sabem que o local de trabalho não é mais sobre localizações geográficas, mais sim sobre o conjunto das capacidades necessárias, prazo de entrega, ferramentas e ambientes ideais (muitas vezes digitais) para que a tarefas sejam executadas com excelência, e com base nessa realidade, pouco importar saber onde alguém está fisicamente, mas sim em quem momento esse alguém está de entregar o trabalho.

– A Experiência do Cliente x O Cliente Tem Sempre Razão:

O cliente experienciar um processo de perfeita jornada ao comprar um produto ou serviço é uma quase uma obsessão em organizações verdadeiramente modernas, elas já entenderam que o poder de uma marca tem a ver com sua capacidade de encantar seus cliente nas mais diversas formas, do que entregar um produto/serviço mais ou menos e fingir que o cliente tem sempre razão.

– Inovação Produzida x Inovação Adquirida:

Todas as organizações que já entenderam a dinâmica do consumidor moderno, entenderam também que inovação genuína não é algo que se terceiriza ou se adquiri comprando empresas no mercado, isso pode resolver a curto prazo ou se quiser entrar rapidamente em mercados de nicho, mais não é capaz de sustentar o sucesso em um mundo onde as pessoas (profissionais e clientes), buscam confiança nas relações, capacidade real de criação, e priorizam as experiências de encantamento.

Poderia escrever outros tópicos, mas acho que esses já serão um bom ponto de partida para avaliarem se as organizações a que pertencem estão de verdade comprometidas com se modernizar, ou se estão somente pintando paredes !

 

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Ligia Zotini Mazurkiewicz

Pesquisadora e Pensadora de Futuro, fundadora do Voicers, possui uma carreira de 15 anos na Indústria de Tecnologia e 20 anos na Educação. Ama fazer pontes para Futuros Desajáveis.

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