Investidores legais existem

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Acredito que existem pessoas do bem, faço um esforço gigante para não acreditar que fui passado pra trás e concluo: INVESTIDORES LEGAIS EXISTEM!

Trabalho numa startup (termo que está sendo usado exaustivamente e perdendo o sentido), começou exatamente em janeiro de 2015, sozinho percebi uma oportunidade de mercado explorada, a ideia estava na minha cabeça, assim como todos vocês, tenho meus sonhos e planos mirabolantes, a grande barreira era o medo de colocar em ação.

Respirei fundo, não tinha apoio e nem dinheiro no caixa, tomei coragem, vesti meu uniforme e entrei em campo para jogar e me sujar, isso não é uma analogia. Para poupar sua leitura, reduzindo o texto e matando a curiosidade, a startup a qual estou falando é o Goleiro de Aluguel.

No primeiro mês atuando no “mercado”, foram 13 partidas, somando R$390,00. Uma sensação empolgante em saber que agora poderia ter uma renda extra batendo uma bolinha a noite. Lembro de fazer contas: “Com isso vou pagar minha a energia, água, internet da minhas casa e sobra R$100,00.”

Continuei no mês seguinte, fechei 15 jogos e com a visão maior do que estava acontecendo, era uma oportunidade de oferecer complemento de renda para outras pessoas e ainda solucionar um problema do “peladeiro”. Conversei muito, explicando que poderia transformar num negócio rentável, recebi alguns tapinhas nas costas, ouvindo: “Vai fundo!!!”. Dinheiro ninguém estava disposto a investir para validar o negócio, foi quando apareceu meu INVESTIDOR ANJO.

CARA LEGAL NÚMERO 1:

Ele era um dos usuários que estava ajudando no pequeno ecossistema que nascia, seu nome é Eugen Braun. Aproveito este texto para desculpar-me, demorei 3 anos para perceber que meu sócio foi o primeiro a comprar e acreditar no negócio, realizando aporte financeiro.

Logo na primeira conversa algo foi diferente, positivo, confiante, ele era o cara pra estar ao meu lado! Esbocei o modelo de negócio, minhas ambições, estratégias, foi assustador, mas em nenhum momento ele pediu para eu parar, vestiu seu uniforme também, para entrar em campo comigo, um alívio, a partir daquele dia não estava mais sozinho e não foi só isso, o Eugen assinou um cheque no valor de R$4.000,00 para entrar no negócio. Não sabia o que aquilo significava, mas hoje está claro, foi o primeiro investimento.

Em 2 meses desenvolvemos o MVP, a proposta era interessante e divertida: Usar ferramentas gratuitas e que qualquer leigo, conseguiria utilizá-las com pequeno e rápido aprendizado. Fomos bem sucedidos nesta fase, trabalhávamos no produto tarde da noite e lançamos o site em junho de 2015. Depois de 30 dias, comemoramos comendo pastéis a marca de 1 goleiro alugado por dia. Sim, esse é o nosso modelo de negócio, para você que ainda não entendeu, alugar goleiros para jogos de futebol amador.

CARA LEGAL NÚMERO 2:

A história da nossa empresa era super interessante para ser contada, ainda mais com a crise que o país se encontrava (ou ainda se encontra), sendo assim, foram muitas matérias publicadas na mídia. Como recompensa, meu amigo e dono de uma Pós-Graduação, professor Guindani, fez uma proposta de patrocínio para estampar a marca da sua empresa, nas camisas que seriam usadas pelos Goleiros de Aluguel. O valor era interessante, aumentava nosso faturamento em 70%, ou seja, de R$900,00 para mais de R$1.500,00.

Nesta época surgiu a oportunidade de participar da Campus Party Brasil e o melhor, tinha caixa pra bancar essa viagem.

CARA LEGAL NÚMERO 3:

Ouvíamos relatos que na CPBr haviam oportunidades de apresentar sua startup para investidores com os bolsos cheios, sedentos por novos negócios. Antes de participar deste grandioso evento, o Eugen sugeriu conversar com alguém mais experiente no mundo dos negócios e escolheu um diretor da empresa na qual ele trabalhava, o Caetano.

Caetano nos convidou pra jantar, foi um gentleman, nos ouviu, aconselhou, pagou a conta e perguntou: “Quanto você buscam de investimento? Qual o valor da empresa?”

Descobri que esse tipo de jantar é chamado de “MENTORIA” e que existia uma tal de “VALUATION”. Caetano, gentil que só ele, nos emprestou R$2.000,00 para pagar uma consultoria, que iria tentar descobrir quanto nossa empresa valia. Vai ser gentil assim sei lá onde, o cara foi legal pacas!!!

CARAS DO MAL NÚMERO 1:

A Valuation em nossas mãos dizia: VOCÊS VALEM R$1.000.000,00!!! (Leiam com a voz do Silvio Santos)

O processo seletivo para CPBr 2016 estava rolando e nós na apreensão para sermos selecionados. Crescemos e em outubro de 2015 alugamos 155 goleiros, sabíamos que para alcançar novos horizontes, era necessário um aplicativo. Realizamos de praxe 3 orçamentos para terceirizar o desenvolvimento do sistema e optamos por uma “startup” que nos ofereceu além de linhas de códigos, consultorias sobre o negócio. Não foi a cotação mais em conta, por isso parcelamos em 3 vezes o valor, o Eugen ainda emprestou parte de suas economias para pagar esse compromisso, visto que o cronograma para entrega era 90 dias.

Plano perfeito, o aplicativo estaria disponível para download na semana da CPBr 2016, vamos voar sócio!!!

Passou 30, 60 e 90 dias, pagamos a última parcela e nada de aplicativo, somente telas aleatórias e erradas. Acredito que nosso diferencial sempre foi seguir em frente e nunca pensar em desistir. Falei acima que iríamos voar e fomos mesmo, mas não no sentido figurativo, fomos selecionados para participar da Campus Party em São Paulo.

Nosso estande chamou a atenção geral, fomos entrevistados inúmeras vezes e conseguimos uma ponta no Jornal Nacional da Globo, foi uma loucura, vocês não tem ideia do que é aparecer alguns segundos neste canal de televisão. Mas fomos mal sucedidos na entrega, não tinha aplicativo, era tudo feito manualmente naquele site que nós mesmo desenvolvemos, não suprimos a demanda e perdemos uma oportunidade de ouro para alavancar.

Estávamos sem dinheiro, sem aplicativo e sem respostas da empresa que contratamos.

CARA LEGAL… DIGO, CARA DO MAL NÚMERO 2:

E os investidores com sacos de dinheiro para despejar em sua startup? Não era bem assim o cenário, não podemos generalizar, mas o que mais tinha na CPBr era investidor querendo trocar agenda de telefones por cotas, se dizendo influentes e dando aquele “abraço” maroto que gostamos de ganhar, visto que neste meio apanhamos muito.

E não é que ganhamos um “abraço”? Apareceu um cara que já nos conhecia, ele disse que o encontro não era por acaso, era o destino.

Voltamos pra casa e durante três semanas conversamos com esse cara, ele nos contava sobre sua vida empreendedora, viagens pelo mundo, termos em inglês que nunca havíamos ouvido e nós humildes e ingênuos falávamos em faturar R$10.000,00 por mês, assim sairíamos dos nossos trabalhos e viveríamos somente do GDA. Ele rebatia com cifras milionárias, era de encher os olhos. Que “abraço” gostoso ele tinha!!!

Esse “abraço” e “agenda” nos custou 10% do negócio, sem nenhum aporte financeiro. Não estou sendo totalmente sincero, ele EMPRESTOU um valor para pagar algumas despesas jurídicas, mas pagamos depois.

Pra ser justo, numa jogada de sorte (não competência) ele nos apresentou para duas pessoas, que se tornaram nossos sócios e desenvolvedores, de verdade!

CARA DO MAL NÚMERO 3:

Continuamos crescendo, em maio de 2016 alugamos 299 goleiros, nosso lucro era cerca de R$3.000,00 mensais, não o suficiente para eu e o Eugen ficar full time e buscar outra empresa de desenvolvimento, visto que a qual havíamos contratado tiraram suas máscaras e revelaram serem CARAS DO MAL.

O CARA DO MAL NÚMERO 2 se dizia com contatos quentes, marcou uma reunião com um suposto “investidor”, vamos chamá-lo de CARA DO MAL NÚMERO 3.

Apresentamos nosso roadmap, valuation e necessidades para fazer acontecer, fomos questionados e respondemos tudo sem dúvidas. Sem enrolação o CARA DO MAL Nº3 fez a proposta para adquirir 25% e nem chorou, aceitou “pagar” R$250.000,00, parcelados é claro, mas tinha surpresa nas entrelinhas, parte do aporte seria descontado pelo desenvolvimento de um novo aplicativo, pela equipe do suposto “investidor”.

Algo não cheirava bem, sugeri fazer na base do aperto de mão por 3 meses, sem assinaturas de contratos. Passando a experiência, o Contrato Social seria atualizado. Bastou 60 dias para descobrir a fria, não existia dinheiro e nem competência para criar o produto. Na empolgação, o meu sócio Eugen pediu demissão e eu reduzi minha cartela para apenas 1 cliente.

Com nada para fazer naquele lugar, pegamos nossas coisas e fomos embora. Nosso pensamento sempre foi seguir em frente, nem nessa hora pensamos em parar.

CARAS LEGAIS NÚMERO 4 E 5:

Como um andar de um bêbado, o CARA DO MAL NÚMERO 2 e agora sócio de 10%, tentava acertar, mas era mais aleatório do que por estratégia e competência. Tanto é que fomos jantar com um amigo dele e nos apresentaram ao Rafael e Leo.

Nosso MVP sobreviveu por 14 meses, valeu muito fazer todos fluxos manuais, anotamos tudo, desenhamos exatamente o que nossos clientes precisavam, criando um espécie de manual de criação para o aplicativo. Esse “passo-a-passo” foi entregue para os 2 CARAS DO BEM. OS CARAS DO MAL Nº 1 receberam o combinado e em 7 meses não desenvolveram o sistema, existia desconfiança da nossa parte em acreditar que alguém poderia fazer aquilo, 20 dias depois o Rafa e o Leo nos mostraram o nosso aplicativo, o coração disparou, se apaixonamos, era aquilo que precisávamos.

Agora o time estava com 4 CARAS DO BEM, mas nossa renda não era suficiente para pagar a infraestrutura e as remunerações dos desenvolvedores. Oferecemos cotas da empresa para o Rafa e Leo, combinamos um Pró-Labore, acredito que antes de ler esse texto eles ainda não sabiam que só tínhamos no banco o valor para pagar UM mês dessa engrenagem rodando.

Era a linha de morte das startups: você tem o produto, não fatura o suficiente e precisa do investidor!

CARAS LEGAIS 6 E 7:

Entrar num tanque de tubarões era a chance de livrar o GDA da morte, ou seja, participar da 1ª Temporada do Shark Tank Brasil. É válido um artigo para detalhar tudo que aconteceu no programa, em resumo lançamos o aplicativo para download dia 26 de agosto de 2016 e gravamos o Shark Tank dia 29 de agosto, saímos de lá apertando as mãos de João Appolinário e Carlos Wizard Martins. Receber o aporte financeiro não é um processo ágil, mesmo após a participação, a startup passa por um período de avaliação, o nosso demorou 5 meses.

Para manter rodando, o Eugen emprestou dinheiro de amigos alemães e do seu pai, pois só assinamos o contrato de investimento no final de fevereiro de 2017, iniciando a fase que consideramos de “desenvolvimento do produto”. Somos pioneiros nesse mercado, desbravar a mata é uma tarefa difícil, descobrimos erros que precisavam ser corrigidos e isso tudo custa muito dinheiro, fazendo sentido o investimento e compressão dos tubarões.

Nesse trajeto, perdemos dinheiro, mas nos livramos dos CARAS DO MAL Nº1, perdemos tempos e escapamos do CARA DO MAL Nº 3. E o CARA DO MAL Nº 2?

Com 10% da empresa em seu CPF, não era um cara de operação, nem esboçava que iria se esforçar para fazer algo visando o crescimento da startup, só estava “sentando” e observando. Sua “agenda” se tornou mais valiosa para os olhos de outras startups, agora supostamente ele tinha os contatos de dois dos maiores empresários brasileiros. E foi assim que ele saiu pescando 5% ali, 10% acolá de empresas iniciantes, contando suas histórias e redes de contatos, o pior de tudo que não era mentira, mas ele ocultava muitas verdades.

Sendo um “time” pequeno, você até consegue jogar uma ou duas temporadas com um CARA DO MAL, mas se quiser levantar a taça de campeão, é necessário dispensá-lo. Essa dispensa custa caro, a única saída é recomprar os equitys, triste, mas num valor maior de quando entrou. Não tenho dúvidas que foi uma decisão bem tomada, pagamos o preço e o que importa é que descobrimos que existem os CARAS LEGAIS!

Comentários
Samuel Toaldo

Técnico em informática e estudou Física na UFPR. Fundou 2 startups: Bidwili Tecnologia (Suporte em Informática e Desenvolvimento de Sites) e Goleiro de Aluguel (Aplicativo). Participou da série game show Shark Tank Brasil, recebendo investimento de João Appolinário e Carlos Wizard Martins. Atualmente seu aplicativo está impactando milhares de brasileiros, proporcionando complemento de renda através do futebol.

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