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Por Janayna Bhering
Um ecossistema é um conjunto formado por comunidades bióticas (que é característico dos seres vivos ou que está vinculado a estes) que habitam e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que exercem influência sobre estas comunidades.
Por definição um ecossistema de inovação não é diferente. A criação de um ecossistema de inovação envolve ações ligadas ao empreendedorismo, inovação, colaboração, criação, desenvolvimento de produtos e tecnologia. São baseados predominantemente por redes de relações em que a informação e o talento fluem, por meio de sistemas de cocriação de valor sustentado aos sistemas interorganizacionais, políticos, econômicos, ambientais e tecnológicos, em que ocorre a catalisação, sustentação e apoio ao crescimento de negócios.
Este termo tem sido empregado de diversas formas mas a cooperação é uma característica comum à conceituação feita por diferentes autores.
Posicionar uma determinada região pelo aumento de competitividade e o próprio desenvolvimento econômico a partir da localização comum de empresas que se destacam pelo ganho de produtividade, escala, qualidade, impulsionadas pela inovação e desenvolvimento de novos negócios, pode ser uma estratégia adotada por territórios. Assim foi feito, por exemplo no Silicon Valley, Israel, Londres e outros territórios que tem se tornaram referências mundiais.
Mas como é possível esta construção?
Alguns fatores são considerados preponderantes para a criação de ecossistemas inovadores e para atração de centros de P,D&I:
INTEGRAÇÃO: O investimento inovador busca locais que possuam capacitações técnico-científicas, mas que também estejam preparados para promover o “transbordamento” dessas competências para o setor privado.
EDUCAÇÃO: A presença de instituições de ensino e pesquisa é um pré-requisito fundamental para a montagem de qualquer sistema de inovação bem-sucedido.
GOVERNO: Cabe ao Estado desenvolver ações que identifiquem competências locais e promovam as mudanças necessárias para criar o ambiente de integração e cooperação.
AMBIENTE: A infraestrutura básica é condição necessária, mas não suficiente para atração e retenção dos negócios inovadores.
CULTURA: Por ser uma atividade imersa em questões socioculturais, a inovação tecnológica tende a receber alto grau de impacto dos fatores culturais. É importante ter auxílio para a criação de novas empresas e também é fundamental uma infraestrutura de gestão da inovação tecnológica para a sobrevivência dessas empresas. Estamos falando de desenvolver uma cultura empreendedora – consolidar na formação dos jovens a importância da atividade empreendedora e a visão de que o empreendedorismo não é simplesmente uma atividade “aventureira”, mas uma trajetória profissional factível e que possibilita uma inserção diferenciada dos jovens na economia de mercado.
Nesta ótica, diferentes são os papéis dos atores que constituem um ecossistema de inovação. Em muitos casos pode haver um ator central que lidera o ecossistema e em outros casos isso pode se dar a partir de um movimento auto organizado, como Minas Gerais tem tentado fazer, por exemplo, com o MOVEM – Movimento da Nova Economia Mineira, que pauta a inovação como pilar estratégico do desenvolvimento econômico do estado. Esta estratégia será dependente da fase em que o ecossistema se encontra para atuar na governança e organização de suas atividades, na realização de parcerias, na gestão de plataformas e no próprio gerenciamento de valor.
Em alguns casos, os atores do ecossistema podem atuar como concorrentes, mas, mesmo assim o importante é que haja a convergência de ações elevando o patamar da região a partir do desenvolvimento econômico e da geração de negócios inovadores.
Em suma, um ecossistema precisa ter os papéis dos atores definidos, com interações internas e externas coordenadas, e fluxos de recursos entre parceiros orquestrados. As parcerias realizadas devem atrair e reunir players relevantes que estejam juntos, formando alianças estratégicas mesmo que de diferentes segmentos. O termo colaboração vem sendo considerado como o de maior relevância em um ecossistema, uma vez que pode criar valor, por meio de vínculos fortes, para a evolução coletiva.
Os atores precisam também estimular investimentos complementares de forma a prover oportunidades para criação de clusters tecnológicos e desenvolvimento das vocações de uma determinada região. Assim, embora ainda possua diferentes definições, um ecossistema de inovação pode ser fortalecido a partir do momento em que é criada uma relação de interdependência entre os atores em uma relação de “ganha-ganha”.
Agora o oposto disso acontece quando os atores decidem focar em si próprios e no desenvolvimento de seus “Egossistemas” – e todos perdem no fim das contas.
A criação descoordenada de ações fragmentadas e a sobreposição de esforços geram a utilização desnecessária de recursos (humanos, financeiros, infraestrutura, etc), que cada vez estão mais escassos e no fim das contas todos concorrem por uma mesma oportunidade.
Fazer mais do mesmo gera lacunas de oportunidades não exploradas e impede o crescimento de uma determinada região de forma a não atingir todo seu potencial.
Referência inspiradora
Um exemplo que conheci recentemente que representa bem esta integração de esforços é o Ecossistema de Israel, um país que se diz abençoado pela escassez e teve que se reinventar. Escassez esta que representou o impulso inicial do desenvolvimento baseado na tecnologia, onde 8% da população está envolvida de alguma forma com atividades de P,D&I e a meta é dobrar este percentual nos próximos 10 anos, visando aumentar a qualidade de vida e a renda per capita. Um país situado no deserto e apesar disso possui a maior floresta plantada do mundo e é referência em tecnologias de irrigação por precisão (sistemas de gotejamento). 85% das fontes atuais de água são oriundas de água de reuso (fertirrigação + água dessanilizada). Apesar de todas questões religiosas e étnicas que geram os conflitos que já conhecemos, a inovação é uma variável que os une. A economia do país tem 30% do PIB resultado de exportações, sendo 50% produtos de alta tecnologia. Israel tem em seu DNA uma grande simbiose entre ciência e desenvolvimento do país (4,2% do PIB investido em P,D&I). “O futuro de Israel está nos cérebros”, como gostam de enfatizar. A transformação de ideias em soluções tecnológicas fez com que este país ainda jovem se tornasse uma grande referência em desenvolvimento tecnológico. Sugestão de leitura: Livro “Start-Up Nation: A História do Milagre Econômico de Israel” é um livro de 2009 de Dan Senor e Saul Singer sobre a economia de Israel.
Por fim acredito no desenvolvimento pautado por ações orquestradas, integração de esforços e que juntos somos mais fortes e podemos construir um estado e um país melhor.
E você, como acredita que podemos fazer isso?